segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sumiu.

Sumiu! Sumiu, sumiu e sumiu. Tenho certeza que ia escrever algo mas... Provavelmente nada demais e nem tão bom mas, ia. Eu ia... Não, eu vou. Pode ser que demore mas... Que se foda! Quem eu quero enganar? Sumiu e ponto.

Caso Perdido por Desistência.

Tenho andado muito calado e irritadiço. Posso escolher vários motivos para isso: esse calor infernal, abstinência forçada de vários vícios, ausência de alguém... Mas nenhum desses parece ser o real motivo.
De uns dias para cá me pego chorando porque meu cão se machucou ou o preço dos bombons aumentou mas, o que mais me aterrorizou nisso tudo: não sei o que me levou à ficar assim.
Me tornei um velho ranzinza aos dezesseis anos que se tranca no quarto, pois não suporta o barulho das pessoas e, muito menos, as pessoas, fecha a cortina pois não suporta o sol e, pra não morrer de calor, deixa o ventilador ligado o dia inteiro.
Olho para trás e fico perdido tentando lembrar de quando me tornei "isso", e, só então, percebo que sempre fui assim. Isso me destrói mas, percebi também que sempre serei assim. Sou desse jeito por que sempre fui, tentar mudar só pioraria tudo pois, se não conseguir, não haverá porque continuar.
Aos poucos pioro por estar assustado e fraco demais para tentar curar-me, arriscando assim me entregar de vez. Mas, o que poderia fazer? Além, é claro, do que sei que poderia?

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Vida Inacabável.

Estava exageradamente carente. Sentei-me no muro inacabado da área de meu apartamento, à pouca distância de uma queda de exatos 12 andares. Mas, suicídio estava fora de questão, é claro.

Levantei-me, os tijolos sujaram minha calça e, nesse dia, tinha reunião do inútil do meu chefe. Dei uns quinhentos tapas na minha calça, até que ficasse impecável, e fui para o Centro da Cidade no meu carro de classe-média, que era mais velho que meu filho mais novo, de seis anos.

Como já esperava, o trânsito estava engarrafado, levaria uma hora para chegar. Enquanto esperava o sinal abrir, me olhei no retrovisor  e, o que vi, foi uma barba de dois dias com alguns fios brancos, mais um motivo para reclamação, pensei.

Quando cheguei, a reunião havia sido desmarcada e meu chefe arranjou um meio de por a culpa nos meus vinte minutos de atraso. Tive mais um dia monótono em frente à fria tela do computador, exceto pela hora do almoço, que passei no fumódromo da empresa. Pouco antes de ir embora, ainda tive de ouvir: "Vê se chega cedo amanhã e, pelo amor de Deus, raspe isso!"

Finalmente em casa, descobri meu filho mais velho, que me odeia e deveria estar na casa da mãe, minha ex-mulher, na minha cama com a nova namorada. Ela foi a primeira a reparar que eu estava ali e não pareceu se importar. Parou com os gemidos de súbito e gritou: "Tio!" com um sorriso de orelha à orelha.

Meu filho levantou a calça, que ainda vestia na altura dos joelhos, cobriu a garota e gritou para que eu saisse e fechasse a porta. Eu a fechei e os esperei. Ele empurrou a garota para fora do apartamento, depois de esperá-la, fora do quarto, se vestir. E, antes de sair, gritou que péssimo pai eu era.Fumei dois maços de Hollywood e bebi tanto café que dormir se tornou impossível.

Enquanto assistia ao Programa do Jô, encontrei em meio aos lençóis um pedaço de papel, que reconheci ser um pedaço de um relatório para levar ao meu chefe no dia seguinte, onde estava escrito: " Me liga ainda hoje 9974-3223, Clara".

Liguei e reconheci a voz da garota do meu filho. Enquanto a esperava preparei mais café e bebi-o ávido. Ao chegar, com sua mini-saia, top e all-star, disse "oi" e enfiou sua lingua em minha garganta. Comi-a como cachorros de rua comem vira-latas. E a expulsei após ouvir dela: "Você faz muito melhor...", sentindo asco de mim mesmo.

De manhã, sentei novamente no muro inacabado. Suicídio pareceu a resposta da equação mas, matemática, nunca foi meu forte. Imprimi novamente o relatório e corri para meu carro, estava atrasado.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Até Sumir.

Não sei o que acontece comigo. Há horas que, simplesmente, tudo muda. Tudo. Mas a rotina de minha vida se mantém a mesma, de modo contínuo e impossível de se quebrar.

Nessas horas em que nada parece igual, mesmo sendo, sinto necessidade de mudar junto. Seja cortando o cabelo, deixando a barba crescer, mudar o tipo de roupa, ou seja o que for.

Mas, então, eu finalmente percebo : nada mudou. E tudo o que mudei na minha aparência ou estilo de vida passa a me irritar profundamente e, então, me pego esperando que tudo volte a ser o que era, mas nunca volta. Porém, o que não volta não é meu cabelo ou qualquer dessas coisas, sou eu.

Tem horas que simplesmente não sei o que sou e o que me forço ser e, então, finjo não ligar. E continuo me perdendo em necessidades inexplicáveis. Até sumir.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Sobre patadas.

E a vida parece feita de patadas. Patadas de todos os tipos: rápidas e suportáveis, lentas e intensas e intensas e insuportaveis. Recebemos as duas primeiras o tempo todo e continuamos, continuamos porque não há mais nada a fazer e, de súbito, levamos a terceira.
O terceiro tipo de patada, intensa e insuportável, nos joga no chão destruindo nossos planos e lá ficamos. E ficamos... Não tenho certeza se um dia realmente levantamos. Mas as patadas essas nunca falham e se fazem presente, mesmo que chutando moribundos.

Joana.




Ela sabia exatamente o que fazer e quando fazer. Alta, pele num tom pálido do negro e esbelta; sobre-humanamente esbelta e somente nos lugares certos. Ela era mais bela que qualquer deusa grega, alias qualquer deusa perto dela passaria por monstro. Ela era algo mais do que, até mesmo, as modelos da Victoria Secret. Havia algo de indecente inclusive em como os homens, e algumas mulheres, falavam seu nome: Vanessa! era como se gritassem "Eureca!"

Mas ela não era só um rostinho bonito, não! Era, também, incrívelmente bem sucedida, e com isso quero dizer: rica. Não era casada e tinha um filho de 14 anos, imaginem então quantos anos ELA tinha, mesmo com aquele corpo...

Joana, irmã da Vanessa, tinha inveja dela. Impossível, não? E a odiava, por assim dizer. Ela era, de modo insuportável para nossa época, gorda, tinha um marido, dois ex-maridos e cinco filhos. Sobrevivia com o pouco dinheiro da pensão dos "ex`s", o salário de professor de seu "atual" e dos sacolés que vendia.

Um dia Joana, fudida financeiramente, se viu quase obrigada a pedir ajuda a sua irmã. Essa, por sua vez, a recebeu muito bem em sua cobertura de frente pro mar no Leblon. Joana queria ser direta no assunto: "Estou fudida, preciso de dinheiro.", mas Vanessa botou Chico Buarque pra tocar -Ah, Chico!- e trouxe vinho tinto seco para beberem.

A garrafa era cara e quase secular. As duas bebiam, bebiam e bebiam, mas, como sempre, Vanessa era superior e manteve-se sóbria, Joana não... Finalmente conseguiu dizer o que foi dizer, em meio a soluços e risos fora de hora, mas disse.

Porém, em meio aos mesmos soluços e risos, outras coisas fugiram de sua boca. As verdades inconvenientes citadas no começo saíram em forma de ofensa, sendo isso possível ou não.

Como era de se imaginar, Joana saiu do estupendo prédio real de Vanessa sem dinheiro suficiente para a passagem e teve de voltar, para seu barraco na Zona Norte a pé, na maior parte do trajeto. Ainda bêbada, é claro.

Porém ela conseguiu se safar. Um de seus ex-maridos, um contador, tinha ações de uma pequena empresa na bolsa que se tornaram maravilhosamente caras depois de apenas três anos, quando essa empresa cresceu. O ex-contador largou a magrela com quem estava para voltar para Joana que largou o ex-atual pelo dinheiro,  mesmo sem saber se ele voltou por ela ou pelos dois filhos.

 Enquanto a vida de Joana melhorava a de Vanessa piorava. Sua empresa estava passando por "tempos ruins", mas o que estava realmente a incomodando era a enorme espinha que aparecera na ponta de seu perfeito nariz.

Joana, percebendo o estado em que a empresa de Vanessa se encontrava, comprou pra si, pra seu marido e pra seu filho mais velho, que havia a pouco feito vinte anos, ações suficientes da empresa para comandar a mesma. É claro que isso não traria lucro algum, mas era de vingança que corria atrás. A doce vingança.

Nos anos seguintes a imortalmente bela Vanessa tornou-se escrava de sua irmã na empresa, ou secretária se preferem eufemismos. Mas seu talento não a deixou e logo ela conseguiu um ótimo emprego numa outra empresa em ascensão.

Joana, dando-se conta de que nunca teria sua vingança, caiu em depressão. Ninguém a fazia andar, comer ou se olhar no espelho e, um dia, ela tomou veneno pra rato como a boa peste que considerava ser.

Morreu rica e estupendamente magra. Imbecil.

Texto de: Edson.