terça-feira, 2 de março de 2010

Apatia

Embebido em toda sua antipatia,
apático à tudo
e com ar de melancolia
passa seus dias

Com perceptível tédio me traga
e como tendo repulsa expulsa-me
em um leve sopro

Alívio
mas logo
desespero

Percebe-se então ilhado
no cume de toda sua antipatia
isolado, arrasado e mal tratado
reencontra simpatia

Girassóis

Deveria ser fácil perceber que iria embora, ao menos se eu prestasse atenção. Isso seria óbvio para mim toda vez em que, gentilmente, não dizia me amar. Mas, ainda assim, eu seria incapaz de evitá-lo. Se até os girassóis na nossa janela te seguiam, que chances teria eu?
Acho que nunca ouve tantas luas cheias num mês, as noites eram sempre a continuação do dia. Acho também que nunca ninguém ficou tão desolado em deixar uma casa como eu. Ah! Nossa casa. Nunca mais ela foi a mesma depois que a abandonamos. Não há mais aquele cheiro de lavanda, esse foi trocado pelo ar fúnebre dos cravos, que se instalaram ali vindos de não sei onde, e sua confortável meia-luz se parece agora com simples trevas. Mas os girassóis ainda estão lá, inanimados. Fitando a porta por onde você costumava entrar, junto à luz.
Mas, sabe, eu ainda guardo a felicidade desses tempos e, até mesmo a visto. Como quando, numa tarde fria e nublada, observei gotas de orvalho em minha laranjeira enquanto usava o casaco que um dia me emprestou e eu nunca devolvi.