tag:blogger.com,1999:blog-73737954247133309512024-02-07T05:04:35.977-08:00Sem TítuloPseudoblog com alguns escritos, a maioria sem nexo algum. Apenas vontade de mostrar de modo quase anônimo o que escrevo.Unknownnoreply@blogger.comBlogger72125tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-52101972999217633402013-08-18T12:57:00.000-07:002013-08-18T12:57:37.218-07:00Cigarro Longilíneo, fumegante... sensual! O trago aos lábios porque me dá mais que beijos... Prazer, quentura e falta de ar. Me agrada, também, olhá-lo. Agrada porque dança como só os vapores dançam, sempre em direção ao céu formando círculos e curvas, enquanto pinta tudo em tons de pálido azul.<br />
Me desespera não tê-lo por perto. Há muito foi meu único amante e talvez venha daí esse apego. Hoje é o outro do qual o real amor abomina. Ciúme... Meu amor diz que nosso caso é vício, é doença. E tem razão. Mas o que fazer se eu gosto daquele inconfundível cheiro de morte?<br />
Vou largá-lo! Prometo que vou. Assim que eu... Assim que eu.... Assim que eu perceber e admitir quão fraco sou.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-14310524414396306652013-03-27T16:25:00.000-07:002013-03-30T08:09:17.174-07:00O último signo Poucos sabem, mas existe um décimo terceiro signo do zodíaco. Este é o signo dos que não vivem sob a influência dos astros e sim da do vácuo entre eles. O signo dos infortunados, dos loucos e desesperados. Edgar o dizia corvo, Augusto o dizia verme e eu digo que sou deste signo multiforme e azarado. Nasci no mês que vem depois de dezembro e antes de janeiro, no dia 32, às 25 horas na única encruzilhada que há na estrada Sodoma-Gomorra. E digo isso somente para que os desconfiados como eu possam consultar meu mapa astral e ter a certeza de que não minto. Uma espécie torta de argumento de autoridade.<br />
Nós vacuonianos somos desconcertados, sem grandes habilidades, estrábicos, sociofóbicos e depressivos por longos períodos de tempo intervalados por breves momentos de apatia, seja alcoólica ou medicamentosa.<br />
Um famoso nativo de meu signo, Murphy, escreveu nosso manifesto que é também um conjunto das leis que regem o universo para nós. Somente para nós, pois não só a venda da lei dos homens é de tecido transparente e caro. Talvez você, leitor, esteja familiarizado com as Leis de Murphy.<br />
Estando, então, muito bem definidos minha sorte e destino; e eu conformado e acostumado a eles, eis que todo o cosmos é contrariado. Ou talvez tenha se apiedado de minha condição... O fato é que colocou em meu caminho uma brisa de amor. Mas como confiar que esse pequeno movimento de ar é o prenúncio de toda uma tempestade que culminará em tornados e vacas voando e não em um efêmero embaraçador de cabelos? Há certa frustração em se conseguir o que quer. Essa desconfiança que vem da percepção de estar vivendo a exceção à regra. Afinal, como pode o leão amar o nada entre as estrelas?Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-87121233127988014922013-03-03T08:09:00.000-08:002013-03-03T08:09:15.126-08:00VemVem num soco<br />
que te quero tosco.<br />
Vem sem jeito<br />
que te quero torto.<br />
Só não vem louco<br />
que não te quero morto.<br />
<br />
Vem aberto<br />
que simplesmente te quero.<br />
Seja abraço,<br />
seja laço de braço.<br />
Só esteja comigo.<br />
Esteja vivo.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-43091672229388275882013-03-03T08:06:00.001-08:002013-03-03T08:06:44.415-08:00Pele devastadaA pela era terra<br />
fértil e verde,<br />
vulnerável e pulsante.<br />
Ele era explorador,<br />
alcançava cada curva,<br />
dominava e nomeava.<br />
A ditava!<br />
Pois ela era dele.<br />
Ativamente submissa<br />
acatava cada imposição<br />
como quem ouve uma sugestão<br />
já que assim se agradava<br />
tal como se enganava.<br />
Fato sem importância<br />
para ela: terra encontrada.<br />
Terra nomeada!<br />
Explorada,<br />
mas útil em última instância.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-71997690325840186922013-03-03T08:00:00.000-08:002013-03-03T08:00:57.091-08:00Ele tem outroO travesseiro extra ocupa o vácuo<br />
deixado por aquele último.<br />
Retardado desistiu de largar<br />
o cigarro que fumava.<br />
Nervosamente xingava e chorava<br />
o homem que agora levantava.<br />
E dizia não saber.<br />
E dizia que o amava.<br />
Machucado e abandonado não ligava<br />
para outro que o curasse.<br />
A carência morreria<br />
sufocada em fumaça,<br />
por travesseiros esmagada<br />
e pelo relógio ignorada.<br />
E esse cantava,<br />
e tic-taqueava<br />
promessa de amnésia.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-70140439139814775282012-10-14T11:00:00.000-07:002012-10-14T11:00:16.620-07:00Da Cegueira (auto imposta) Ele tateou no escuro do quarto pelo seu óculos perdido em algum lugar do criado-mudo. Achou-o e, ainda que o estivesse procurando, sobressaltou-se com o toque frio das lentes. Era um desses dias que considerava tal acessório terrível. Pegou o objeto do seu medo cuidando para que o manchasse com os dedos. Imprimindo, desta forma, no vidro - "Cristal!", diria o oculista - suas digitais. <div>
Levantou-se da cama cego e sereno, ainda com ele nas mãos. Caminhou com cuidado pelo breu em direção do interruptor tropeçando nos próprios chinelos, trapos e móveis. Ao alcançá-lo, segurou o óculos frente ao rosto para baforejar as lentes, embaçando-as ainda mais. Somente quando o colocou na cara ligou a luz, desta forma não corria o risco de enxergar.</div>
<div>
-Tem dias que eu prefiro ser cego. Dias em que ignorar o que há ao meu redor é necessário se pretendo manter certa sanidade mental.- Explicou a si mesmo.</div>
<div>
No dia seguinte ele ainda se encontrava no breu do dia anterior, mesmo depois de ligada a luz.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-36849533838909766412012-09-15T17:49:00.001-07:002012-09-15T17:49:57.982-07:00É Proibido AmarFumei um cigarro inteiro<br />
num ímpeto estrangeiro<br />
de mudar de vida.<br />
Rasparia a cabeça<br />
com toda certeza<br />
de que minha imagem mudaria.<br />
Começaria assim,<br />
com o exterior de mim<br />
que a mudança é assim mesmo:<br />
de fora pra dentro.<br />
Alguém aponta e ri<br />
e você chora se escondendo.<br />
<br />
Ai esse cigarro grudento!<br />
E essa lágrima escorrendo...<br />
<br />
Quem é esse cara<br />
que me tira na marra<br />
o prazer de lento ir morrendo?<br />
Quem é esse garoto<br />
que me esfrega no rosto<br />
a culpa de eu ser tão novo?<br />
<br />
Acendo outro cigarro<br />
e já é o terceiro.<br />
Olho o oráculo<br />
nas costas do maço<br />
e o sorriso vem ainda que torto.<br />
<br />
D<br />
E<br />
R<br />
R<br />
A<br />
M<br />
E<br />
<br />
Mas essa sorte não tenho.<br />
Então o plano primeiro mantenho<br />
e planejo meu futuro correndo:<br />
atos insanos e repentinos,<br />
amores unilaterais,<br />
fodas casuais<br />
e morte num hospício.<br />
<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-36350014988537260382012-08-11T15:16:00.000-07:002012-08-11T15:16:56.521-07:00Do Real e da DescrençaMil odes fizera ao sonhado mar!<br />
de espumas brancas como nuvens<br />
d`um céu claro de verão,<br />
de ventos frescos e almas jovens,<br />
como dita a estação.<br />
<br />
E outras mil faria!<br />
Se quisesse ficar e sonhar.<br />
Mas do sonho estava cansado,<br />
então, com pressa nada comedida,<br />
já que o queria materializado;<br />
planejou sua ida.
<br />
<br />
Tão logo quanto chegou<br />
ele as avistou:<br />
lindas e brancas gaivotas.<br />
Todas negras,<br />
todas mortas.<br />
<br />
Mas haviam outras aves.<br />
Vivas aves canibais!<br />
De ares sinistros e graves<br />
Rodeando as que não viviam mais.<br />
<br />
O mar? Um imenso esgoto!<br />
E o ar? Cheirava a morto!<br />
E as almas? Tinham mofo!<br />
<br />
Já o poeta, outrora jovem e valente,<br />
tornou-se inevitavelmente<br />
um decepcionado descrente.<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-60955789203209980282012-06-09T10:12:00.002-07:002012-06-09T10:12:37.610-07:00Sobre ontem à noiteMe olha torto de decepção.<br />
Frio aperte-me a mão.<br />
Saúda-me com educação.<br />
E suma.<br />
<br />
Encontre-me só e pare<br />
longo como quem diz nada.<br />
Sonha, então, que me mata!<br />
E volta.<br />
<br />
Agarra agora quem<br />
te encara longe sem<br />
saber que aqui há<br />
quem sofra.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-34012957213656659232012-05-01T14:15:00.001-07:002012-05-01T14:15:15.423-07:00A Árvore Havia uma árvore numa rua movimentada do centro da cidade que, de tão antiga, para mim parecia eterna. Eterna como o é Deus, sem início e sem fim. Talvez pareça estranho que alguém tenha uma ideia dessas na cabeça em tempos como este, onde tudo é irremediavelmente descartável, mas é exatamente por isso que este tipo de impressão nasce. Na era do ceticismo e da finitude sentimos necessidade de criar ídolos que sejam infinitos. Precisamos de algo que nos acenda a fé, algo que nos dê a certeza de que quando eu passar por ali, dentro do ônibus lotado, a verei como a vejo sempre: antiga como a terra e bela, muito bela.<br />
Em um dia excepcional para o Rio de Janeiro, conhecido pelo sol e pelo calor, choveu e fez frio. Não era uma chuva qualquer... Nunca o é. Não é mesmo? Que tipo de texto que se preze fala de acontecimentos banais? Não, não era mesmo uma chuva qualquer. Era uma dessas chuvas que não se vê desde o dilúvio. Alagou o centro, destruiu as favelas e afogou homens, mulheres, crianças, amantes e pessoas de bem.<br />
Chuva horrível e detestável. Deixou a cidade em ruínas, mas, ao contrário do que se possa pensar, não era o fim. A cidade se reconstruiu com a força daqueles que, no dia seguinte, acordariam cedo para buscar seu sustento. Desalagou-se o centro, reconstruiu-se as favelas e velou-se os mortos pela catástrofe.<br />
A árvore? Tá aí uma consequência da tempestade que não foi remediada. A árvore imortal, eterna e infinita tombara e as pessoas, que nada sabiam de sua singularidade, nada fizeram. As vezes, para me consolar, penso que mesmo se soubessem de algo nada fariam por nada poderem fazer. Confesso que não é muito reconfortante...Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-45329007253675341952012-04-06T06:44:00.000-07:002012-04-06T07:00:24.178-07:00Indiferente Estava obcecado. Repassava cada pequeno detalhe várias e várias vezes. Fora levado até ali pela raiva, pela mágoa, pelo desespero e pelo amor; maior culpado de todos e lembrava-se da noite, há muito tempo atrás, em que a pediu em casamento. Lembrava que naquele momento o que mais lhe prendia a atenção era a hesitação dela. Seria isso uma espécie de sinal? Deveria ele ter desistido ali, levantado da posição habitual dos que propõem casamento, limpado o joelho de sua calça e desaparecido? Seria ele capaz?<br />
O hesitar. Pensava agora que aquela falta de reação era a prova de que ela nunca o amara. Os dois ali no restaurante preferido dela. Os dois ali bem vestidos para enquadrarem-se a ocasião. E ela, que usava um coque severo e carregava com orgulho o colar caro e extravagante que ele lhe dera, tinha de saber dos planos para a noite.<br />
Era impossível que não soubesse, era parte dela sempre saber. A hesitação fora apenas o tempo que precisou para pesar novamente as consequências de privar-se daquilo que disse tantas vezes sentir por ele, pensou. Mas como estava linda naquela noite. Como era sensual a maneira que ela dizia sussurrando: "Eu te amo". Como a vida era mais fácil quando ele acreditava.<br />
Os sinais! Os sinais eram como fantasmas ignorados por ele. Mas, afinal, houve um sinal que ele foi incapaz de ignorar: a marca de uma boca no seio esquerdo de sua mulher. A boca de outro. Naquela noite, naquela cama e no meio do ato conhecido como o mais íntimo entre duas pessoas, ele descobriu que sua esposa era uma estranha. Uma mulher que talvez desconhecesse por completo. Quis chorar, quis perguntar, quis agir como um imbecil violento. Nada fez. Parou, junto com todo o planeta que saiu do equilibrado movimento constante e antes eterno. Dormiu e sonhou. No sonho era esmagado por um gigante sem face, sinistramente sem face.<br />
Precisava saber mais. Qualquer um lhe diria para esquecer, porém era incapaz. Já sabia o suficiente, diriam. Já sabia demais! E ele discordaria com toda a certeza que só uma pessoa com seu orgulho ferido e seu amor roubado pode ter. Queria mais. Queria cada pequeno detalhe daquele ato odiável e asqueroso.<br />
Na intenção de ficar e vasculhar a casa em busca de algo que lhe contasse um pouco mais sobre o adultério, disse a mulher estar doente. E talvez não mentisse. Realmente sentia-se febril, inquieto, nauseado e monomaníaco. Andou de um lado para o outro, revirou gavetas, arrastou a mobília e arrancou os próprios cabelos com suas mãos machucadas de tanto socar as paredes, que pareciam lhe atravessar o caminho só para irritá-lo.<br />
Precisava se acalmar e sabia disso. Haviam várias garrafas de cerveja na geladeira e resolveu então embriagar-se. Ficou mais do que bêbado e um tanto mais calmo, entretanto essa quase calma logo o deixaria. Em meio ao caos que se tornara o quarto dos dois ele achou uma carta. Sim uma carta! Quão infantis e ridículos eles eram agindo como dois adolescentes apaixonados?<br />
A carta, que tinha como remetente o Outro, continha milhões, bilhões, quem sabe? de juras de amor que fizeram seu estômago, embebido em álcool, revirar. Ao menos o puto também pedia desculpas pela marca que deixara e a perguntava se ele, o corno, notara.<br />
Ali também haviam assuntos íntimos. Tão íntimos e particulares dela que nem mesmo ele, seu marido, tinha conhecimento. Sua sogra tinha câncer e ele não fazia ideia. Há quanto tempo se encontravam para que soubesse tanto, enquanto ele sabia tão pouco?<br />
-Você trabalha demais.- ela disse uma vez com o desapego dos que sabem que o que foi dito será ignorado. E talvez, só talvez, isso fosse algum tipo de apelo; pensou.<br />
Nunca antes ela havia lhe pedido sua opinião e no entanto, algumas semanas após a afirmação dela ser quase totalmente ignorada por ele próprio, ela lhe perguntou:<br />
-O que acha do meu cabelo?- novamente o tom não cabia a frase. Era frio e desesperançado. Outro apelo? Ela havia cortado o cabelo e ele não tinha reparado.<br />
-Ficou bom... Ficou sim...- ele nunca saberia mas já haviam se passado semanas desde que ela o cortara.<br />
Talvez a culpa fosse dele. Quem sabe? Talvez ele não desse a atenção que todos precisam. Mas seria isso justificativa? Não. Ele estava agindo como um fraco novamente. Ela sempre o fizera agir como um retardado carente de ajuda. E, na verdade, ele era. Precisava dela para apoiar suas decisões e ideias. Precisava dela para legitimar seus atos. Sempre precisou. E ela, do topo de toda sua arrogância, não só sabia como se aproveitava de sua fraqueza de espírito.<br />
Ah! Como ela se orgulhava de si mesma. Passava horas analisando cada pequeno detalhe perfeito de seu reflexo no espelho, tinha como passatempo corrigi-lo quando ele falava algo gramaticalmente incorreto e entrou em êxtase quando finalmente fora promovida a um cargo que lhe garantia um salário maior que o dele. O salário tornara-se uma espécie de confirmação incontestável do que ela sempre soube e nunca fez questão de esconder: era superior a ele.<br />
A mataria! Mataria os dois! Estava decidido. Nunca ele saberia como chegou a essa decisão, porém sabia que era isso que queria. Já podia sentir o sangue quente nas mãos e imaginava milhões de cenários e formas diferentes de fazer o que queria. Já tremia de excitação.<br />
Pegou a carta que o Outro a enviara e descobriu seu endereço. Com sorte eles estariam lá. Já era tarde e a essa hora, não fosse ela adúltera, estaria em casa com ele. No entanto esperou. Lhe daria uma hora para chegar e provar que o trânsito estava parado e que apenas se atrasara. Passadas duas horas sem sinal dela ele saiu de casa.<br />
Dirigiu como louco. Desrespeitou todos os sinais e ignorou todos os que o xingaram durante o caminho. Por pouco não morreu, mas eles não teriam essa sorte. Não teriam essa sorte. Murmurava ele um tanto ofegante de ódio e inquietação.<br />
Chegou. Parou o carro em frente ao que o endereço indicava ser o prédio que buscava. Olhou-se pelo retrovisor e viu o que era um retrato perfeito de um psicótico. Arrumou-se até que se parecesse novamente com o homem saudável que um dia foi e subiu. Ninguém o impediu ou sequer lhe dirigiu a palavra e mesmo assim tudo lhe era custoso demais. Tão confuso estava que sequer lembrava se sabia ou não o apartamento que procurava. Desceu e perguntou, enquanto explodia por dentro. Queria agir e queria que fosse logo.<br />
Estava obcecado. Repassava cada pequeno detalhe várias e várias vezes. Fora levado até ali pela raiva, pela mágoa, pelo desespero e pelo amor; maior culpado de todos. No entanto hesitava. Não faria nada. Parou de súbito em frente a porta do apartamento que tanto lhe custou encontrar, deu meia volta e se foi. Não sem antes ouvir o que reconheceu ser o gemido dela.<br />
Ao chegar em casa não fez questão de arrumar nada. Deixaria o caos exposto e permaneceria imóvel e mudo. Decidira-se a permitir que ela agisse ciente de tudo. Largá-lo ou não, escolha dela. Era indiferente. Acontece que depois de tanto acabou morrendo.<br />
<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-49197721074536582342012-01-13T07:25:00.000-08:002012-01-23T17:41:02.383-08:00L....e então saí. Saí para encontrar-me com alguém. Saí para transar com alguém. Saí porque meu corpo necessitava movimentar-se sobre terra estrangeira. Saí porque eu precisava ver gente desconhecida, do mesmo modo que às vezes precisava comer ou beber. Saí porque eu precisava de um instante agradável. Saí porque meu corpo precisava nutrir-se de orgasmos, ou talvez eu pensasse que esfregar minha pele contra a pele de um ser de minha espécie pudesse me curar.<br />
De fato encontrei pele. Pele jovem, lisa, fresca, macia, queimada de sol e marcada com símbolos de um sistema desconhecido e sem outro sentido além de enfeitar a pele já descrita. Perguntei-lhe o nome, sorri e fingi examiná-lo, como se eu já não o tivesse feito, mas é que essa atitude faz parte do código de conduta em situações como esta. Julio, Victor, Mauricio, Sérgio? Não importa. Ele respondeu e eu sorri e me apresentei enquanto suspirava aliviado porque seu nome em nada me lembrava o Outro.<br />
A conversa fluía, lenta, mas leve. Ele estuda em um colégio bom, melhor que o do Outro, mas há algo com aquele uniforme que simplesmente me atrai. Ele também aprecia músicos dos quais nunca ouvi falar, mas duvido que eu vá gostar tanto destes quanto gostei das músicas que o Outro me fez ouvir. Ele faz Taekwondo, o Outro faz Boxe.<br />
Conversa longa, silêncios sufocantes, rizadas nervosas sem explicação lógica... Choque de peles. Ele segurou meu braço e percebi estar sendo examinado por ele. Qual seria minha nota? Não importava, eu estava acima da média e isso era suficiente. "Na minha casa ou na sua?" Na dele, é claro.<br />
<div style="text-align: left;">
Transamos. O Outro nunca transaria tão bem assim, mas isso não tinha a menor importância. Nunca eu quereria alguém como eu o quero. </div>
<div style="text-align: left;">
Levantei-me evitando qualquer contato com aquela pele indesejada, quase desprezível. Despedi-me de forma ríspida, que é como ajo sempre que me entendo, sempre que me acho. Me vesti correndo, disse que ligaria e fugi antes de pegar o número do telefone. </div>
<div style="text-align: left;">
Ao chegar em casa fui direto tomar banho para esfolar minha pele exterminando assim qualquer vestígio da pele alheia e asquerosa. Quando não sobrou nada além de carne-viva deixei-me cair sobre o azulejo molhado e chorei. Chorei por saber exatamente o que eu queria. Chorei por saber, sem sombra de dúvida, que ele não me quer. Chorei porque naquele momento eu não era nada além da metade de um todo que me exclui. </div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-37633027506649170962012-01-09T10:40:00.000-08:002012-01-09T10:40:54.201-08:00Vida e morte do passante que me olhou torto e revelou tudo. A frustração fora sempre uma constante. Era tão acostumado a sua presença que nas raras ocasiões em que esta se ausentava era impossível evitar surpreender-se. Essas raras e alegres ocasiões eram por ele ansiadas como um morto de fome anseia por um prato de comida, mas não importava quão alegres fossem pois nunca eram mais que efêmeras, nunca válidas.<br />
Tantos anos exposto a esses sentimentos amargos que o afogavam sempre que se decepcionava estavam tornando-o melancólico e vulnerável. Acordava tarde depois de dormir cedo e ao olhar através da janela empoeirada do quarto começava a amaldiçoar o céu por este ser incapaz de controlar a chuva de lágrimas e o trovejar de soluços. Quase como se o céu fosse uma extensão dele próprio. Quase como se o céu não chorasse solitário lá do alto inalcançável, mas sim ao seu lado. Os dois impalpáveis, os dois nublados.<br />
Sentia falta de algo que não era capaz de identificar, algo que era tão parte dele quanto seu próprio braço. Algo como um membro amputado, que ainda doía como se estivesse ali. Era a falta de algo comum a todos de sua espécie, menos a ele.<br />
Numa noite de singular angústia começou a se auto-analisar, como que em busca da razão de sentir-se da forma que sempre se sentiu. Era uma tentativa desesperada de se curar, se é que se permitia este tipo de esperança. Acabou se descobrindo insignificante. Assim como tudo no mundo era ele filho do acaso, sem finalidade, sem nada.<br />
Nessa mesma noite ele morreu. Morreu como quem desmaia. Morreu como quem dorme. Morreu porque simplesmente não havia mais nada que o segurasse vivo e, ao morrer, ninguém soube. Ninguém nunca soube. Era um ninguém e com estes não se desperdiça nem um milímetro da página de óbitos.<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-12817192381210928602011-12-18T11:38:00.000-08:002011-12-18T11:38:00.461-08:00Amadurecer. A superfície de sua carne alegava que aquele corpo era já o de um homem e não mais o de um menino. Porém não se percebia verdadeiramente dessa forma e talvez fosse melhor assim. Ainda era incapaz de controlar aquela lágrima solitária e evasiva toda vez que assistia o mundo a sua volta perder o encanto dos tempos infantis, condenados agora a serem memórias nostálgicas.<br />
Para sempre se lembraria da madrugada em que Papai Noel perdeu a fantasia e se revelou o primo gordo e bêbado do pequeno que chorava sem compreender bem porquê, este foi o seu ultimo natal e o sinal do que estava por vir. Com o tempo ídolos, amigos, parentes e até mesmo deus perderiam suas fantasias e esses incidentes seriam recebidos por ele em luto. <br />
Tornou-se corriqueiro lutar contra a maturidade que aos poucos era imposta a ele pelo tempo. Raspava com meticulosidade e certa ira a barba que brotou sem ser requisitada em seu rosto antes juvenil e fresco, como se essa fosse a culpada pelo amadurecimento latente. Quando enfim percebeu a luta inútil que travava, entregou-se ao tempo e este sem exitar o modificou radicalmente. Arrancou-lhe a espontaneidade dos atos, fossem grandes ou corriqueiros, e os encheu de convenções sociais, forçou-o a travestir-se de perfeito e o ensinou a dissimular suas frustrações. Foi necessário certa dose de empenho da parte do novo ser que nascia, mas logo ele aprendeu também a chorar a seco, despercebidamente.<br />
Nunca soube exatamente o que perdeu com essa mudança, que todos chamavam de amadurecimento como se fosse uma espécie de processo evolutivo, mas pra sempre sentiu-se privado de algo imenso e indescritível. Porém não havia com que se preocupar, nunca ninguém saberia dessa frustração que era pai e mãe de todas as outras. Há muito já havia aprendido a chorar a seco, aquela lágrima agora ficava perfeitamente contida.<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-32025264247946405632011-12-06T14:45:00.001-08:002011-12-10T13:39:00.472-08:00Objeto.Como se sobrevive ao desprezo?<br />
Perguntou.<br />
Talvez mude o verbo ao trocar o sujeito.<br />
Imaginou.<br />
Mas somente dele quero ser objeto.<br />
Repensou.<br />
Ainda que de seu descaso objeto direto.<br />
<br />
E nada resolveu.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-21765866475096122872011-11-16T13:08:00.001-08:002011-11-16T15:14:12.036-08:00A Falta (de respeito próprio) A porta do bar era suja, sombria e pouco convidativa, entretanto encontrava-me em um estado de espírito estranho o suficiente para que somente o sujo, o sombrio e o pouco convidativo me atraísse. Entrei e senti que todos me fitavam pelo canto dos olhos ao mesmo tempo que comentavam entre si por sussurros sobre mim. Mas este é um desses fatos que nossos sentidos normais não alcançam, desses que apreendemos pela espinha, que esfria, e analisamos com a garganta, que se fecha.<br />
Sentei-me num banco que era também sujo e sombrio, como tudo e todos lá. Na minha frente estava o garçom, que fingia me ignorar, fiz movimentos estúpidos e desconcertantes com meus braços numa tentativa inútil de chamar-lhe a atenção, como pareceu não funcionar bati de forma rude e eficaz no mármore engordurado que nos separava. Novamente minha espinha gelava e minha garganta se trancava. Pensei em pedir-lhe cerveja, mas essa é uma bebida que tomamos acompanhados, não cabia naquela situação. Pedi Vodca.<br />
Percebi que em momento algum procurei por ele, aquele a quem vim ver com toda a coragem que pude converter em ação. Instintivamente eu sabia que ele não estaria lá, foi também por instinto que eu sabia que ele nunca saberia que eu me atrasei mais de quarenta minutos. Marcamos às seis, já eram mais de sete horas. Aos poucos o desespero esvaziava os copos à minha frente, ao menos parecia ser aos poucos pra mim, que já estava tonto.<br />
Enquanto o relógio tique-taqueava para zombar-me, a voz de meu pai, muito mais grave que de costume, ecoava em meus ouvidos uma mensagem que era tão grave quanto a voz. Ele me avisava do atraso, e me falava de seus significados ocultos: a negligência e o desprezo. Todo atraso, segundo ele, se baseava nessas duas palavras. O pior era que nessa regra eu era exceção. Seu atraso me desprezava e naturalmente me esquecia, como se esquece momentos traumáticos, me qualificando como erro, memoria reprimida. Era um atraso cruel esse dele. O meu era pequeno e tímido. Tentava apenas proteger-me dele, assim como meu pai tentou.<br />
Já passava das oito. Ele nunca havia se atrasado tanto. Era um recorde, constatei em alto e bom som sob o efeito dos copos vazios e incriminantes. Com isso fiz rir uma mulher, que provavelmente esteve ao meu lado todo o tempo sem que eu me desse conta. Olhou-me submissa e lasciva pelo que me pareceu séculos e perguntou meu nome. Irresistível. Não lembro o que respondi mas não foi um nome, já não tinha um. Mas antes de sumir dei a ela tudo o que sobrou de mim: sêmen e lágrima <br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-33324347717550654262011-11-10T14:07:00.000-08:002011-11-10T14:07:07.060-08:00Sobre a inutilidade perene. A vida devia ser arte e nós devíamos viver como arte, belos. Cada pequeno átomo devia ter expresso em si um ideal de beleza e ser extremo em sua qualidade expressiva. Mas, a beleza nos escapa. Já que essa nos escapa, cada pequeno ato devia ter significado e, sendo assim, cada momento sofrido devia ser recompensado. Mas, nada é como devia ser. O real é imenso e supremo e sufoca o ideal que é pura e simplesmente ideal e, como tal, existe somente nas ideias e em nenhum outro lugar.<br />
Hoje eu acordei pensando e que tormento é ser pensante. Sendo pensante eu descobri os defeitos mais desconcertantes. Descobri o niilismo, o ateísmo e a solidão, pouco depois descobri a depressão e logo me descobri inútil. Levantei, respirei fundo e mergulhei fundo na profunda inutilidade universal. Tudo é inútil, tudo sempre foi inútil e tudo sempre será. Mas não pode ser, não pode; pensei.<br />
Ao pensar isso me vi emergindo de volta a superfície do mar de inutilidade, onde ainda há esperança, onde ainda há a crença num significado maior, um significado escondido, mas um significado mesmo assim. Mas será a esperança que só existe na superfície, a esperança superficial, suficiente? Esperança essa que é sinônimo de expectativa de algo que pode existir ou não.<br />
Quando já não posso mais esperar submerjo e me afogo tragando em grandes goles a inutilidade que me cerca. Inutilidade essa que é desoladora, assim como a expectativa travestida de esperança, mas é verdadeira.<br />
Talvez, só talvez, afogar-se seja arte. Talvez haja beleza nessa tristeza que vem da inutilidade perene. E se a vida é privada de sentido, que seja ao menos grande e bela.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-28722140859152061602011-10-09T16:36:00.000-07:002011-11-16T15:15:37.411-08:00O Dilúvio.- O Trampolim,<br />
a Gravidade<br />
e a Água,<br />
que me recebeu com felicidade.<br />
<br />
- Você não fala nada que faça sentido - ele disse, ou perguntou...<br />
<br />
- Você,<br />
a Insanidade (paixão?)<br />
e toda essa depressão -<br />
Expliquei - que me rouba a vivacidade.<br />
<br />
Ele, ainda assim, não entendia nada do que eu falava.<br />
<br />
- Sua volubilidade.<br />
Não! Sua antipatia.<br />
Não!Sua apatia.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
* * * </div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Li no jornal sobre minha terra.</div>
<div style="text-align: left;">
Lá chove dia e noite.</div>
<div style="text-align: left;">
Sem descanso,</div>
<div style="text-align: left;">
sem pausa.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Desgraça!</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Há quem considere a chuva divino presente.</div>
<div style="text-align: left;">
Heresia! Eu diria, </div>
<div style="text-align: left;">
se fosse mais crente.</div>
<div style="text-align: left;">
E se ao menos eu fosse.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Eu só vejo extinção,</div>
<div style="text-align: left;">
o apocalipse em ação.</div>
<div style="text-align: left;">
O mundo inteiro virando um só oceano</div>
<div style="text-align: left;">
que acabará por exterminar</div>
<div style="text-align: left;">
essa humanidade,</div>
<div style="text-align: left;">
essa espécie má.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Destruirá ela inteira!</div>
<div style="text-align: left;">
Que é na verdade um homem só,</div>
<div style="text-align: left;">
<br />
"Só" como em solitário.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
* * *</div>
</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
E toda essa audácia?</div>
<div style="text-align: left;">
Como pôde dizer que aí chove?</div>
<div style="text-align: left;">
Dia e noite,</div>
<div style="text-align: left;">
cada noite e cada dia...<br />
Mentira!<br />
<br />
Na sua terra só há garoa.<br />
Eu a vi naquela noite<br />
pela janela, pelo seu olho.<br />
Eu em seu colo,<br />
você ofegante<br />
e a garoa travestida de dilúvio.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
* * *</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Meus pais,</div>
<div style="text-align: left;">
seres corajosos,</div>
<div style="text-align: left;">
donos de grandes atos.</div>
<div style="text-align: left;">
Eles escalam torres</div>
<div style="text-align: left;">
todas as noites,</div>
<div style="text-align: left;">
torres mortais como um penhasco</div>
<div style="text-align: left;">
e escuras como meu quarto.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Ontem mesmo escalaram,</div>
<div style="text-align: left;">
me encontraram,</div>
<div style="text-align: left;">
me olharam e examinaram.</div>
<div style="text-align: left;">
Ai! Aqueles olhos preocupados.</div>
<div style="text-align: left;">
Eu os vi engolirem o silêncio,</div>
<div style="text-align: left;">
que era um pacto nosso, </div>
<div style="text-align: left;">
e o constrangimento estampado</div>
<div style="text-align: left;">
naqueles rostos</div>
<div style="text-align: left;">
e enfim perguntaram:</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
- Filho, o que acontece? </div>
<div style="text-align: left;">
O que te deixa assim tão melancólico.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
- Eu que vivia na garoa</div>
<div style="text-align: left;">
de olhos fechados,</div>
<div style="text-align: left;">
os abri e corri pro lado errado.</div>
<div style="text-align: left;">
Fui pra terra do dilúvio</div>
<div style="text-align: left;">
e lá nasci</div>
<div style="text-align: left;">
e lá fui criado.</div>
<div style="text-align: left;">
Agora me afogo em tormento e</div>
<div style="text-align: left;">
engasgo com incerteza.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
- Isso passa.- disseram.</div>
<div style="text-align: left;">
Retornando a aspereza.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
* * *</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
- Amor.</div>
<div style="text-align: left;">
- Sim?</div>
<div style="text-align: left;">
- Me mata?</div>
<div style="text-align: left;">
- Tá.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Me afogou na banheira</div>
<div style="text-align: left;">
e foi para a cozinha. </div>
<div style="text-align: left;">
Tomou o gole que restou </div>
<div style="text-align: left;">
do Meu café na Minha caneca.</div>
<div style="text-align: left;">
Enquanto isso eu descia pelo ralo,</div>
<div style="text-align: left;">
como um inseto esmagado,</div>
<div style="text-align: left;">
superado.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-39384419765709687062011-09-18T11:01:00.000-07:002011-09-18T11:01:14.518-07:00O que souSou grande, uma grande pessoa. Não! Estou, estou uma grande pessoa... Grande coisa! Estou uma grande coisa. Um amontoado de não-saber e mágoa. Um amontoado grande demais para caber dentro dos limites de minha pele, pele esta que tornou-se tão fina que sou capaz de enxergar através dela o caos gasoso que tenho dentro de mim. Gasoso sim. Tudo que tenho dentro de mim é gasoso, indeterminado e inútil. Somente quando não me mantenho equilibrado e saudável que parte de mim condensa e transborda como lágrima. Ontem mesmo transbordei no ônibus e o passageiro sentado ao meu lado virou-se e fingiu não ver. Muito educado da parte dele, muito educado. Ainda assim fiz sinal e desci.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-88331378666342967472011-08-28T08:07:00.000-07:002011-08-28T08:07:59.673-07:00O amor tem pressa<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Achei isso na revista O Globo de hoje. Não faço ideia de quem seja a mulher que escreveu, mas ela sabe o que fala. Ao menos pareceu pra mim. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br />
</span><br />
<i>Para Chico Buarque</i><br />
<br />
"Não se afobe, não<br />
Que nada é pra já<br />
O amor não tem pressa<br />
Ele pode esperar"<br />
<br />
"O amor não tem pressa"? "Ele pode esperar"?<br />
<br />
Desculpe-me, Chico, mas desconheço o amor que pode esperar.<br />
<br />
O amor, quando é pra valer, é sinfônico, urgente, latente.<br />
<br />
Pede pela pele do outro. Pede pelo veludo da voz e pela maciez do sorriso. Pede pelo gozo, pelo gole partilhado na bebida, pela brincadeira noturna sob os lençóis e até mesmo pelo silêncio de depois. Pede por palavras escolhidas cuidadosamente que salientem o indizível.<br />
<br />
O amor é valsa, baião de dois, salsa, molho, tempero, batucada, estrada.<br />
<br />
Quem ama não espera! Muito menos em silêncio! Sofre e reclama quando o ser amado não está ao alcance das mãos.<br />
<br />
Quando o amor acontece, ele é pra já, sim, senhor. Ele não cabe num fundo de armário, na posta-restante, num poema rabiscado ou num retrato rasgado.<br />
<br />
Quem ama tem fome. Quem ama tem sede. Quem ama dá vexame, faz a fama e deita na cama.<br />
<br />
Quem ama escreve cartas ridículas.<br />
<br />
O amor que espera, desconheço. Quem sabe não se trata de um mero adereço da resignação? Pluma que enfeita a fé de quem perdeu o bem amado? Pluma leve, que como a ilusão pode ser lançada ao longe com um simples sopro de realidade e se perder no ar...<br />
<br />
O amor não tem remédio, nem nunca terá, não tem juízo, nem nunca terá, não tem medida, nem nunca terá... Mas não, Chico, ele não pode esperar.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">Mônica Montone</div><blockquote> </blockquote><blockquote> </blockquote>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-50548426621039446922011-08-21T23:11:00.000-07:002011-08-21T23:11:16.488-07:00CatarseO que sobe tem de descer. Eles sabiamente disseram, mas esqueceram de avisar que eu devia proteger-me da queda do que quer que eu tenha jogado. Estou preso à uma espécie de devir. Nesse momento quase acredito numa Divina Providência que, após séculos de inércia, decidiu fazer-me pagar pelos meus erros. Eu que achei que já havia aprendido como aproximar-me sexual e afetuosamente das pessoas sem me tornar um escravo me surpreendo contando as tristezas de minha vida, tão preso a todos esses acontecimentos, para todos os que se dispõem a ouvir, e também para aqueles que não. Me surpreendo também chorando na frente de dezenas de estranhos dentro do ônibus lotado. É o devir, a maldição que me faz passar por tudo o que já passei desde a primeira vez que amei alguém. É a queda do que quer que eu tenha jogado, ele ser o motivo de eu tanto chorar quando, na verdade, achava que ele fosse ser mais um dos que comi e depois tive de bloquear para evitar o constrangimento.<br />
É difícil me controlar e não ler e reescrever tudo o que já escrevi, mas eu me seguro. Esse tem de ser um texto de escrita automática. Sabe? Fazer como Breton(Brèton, Bretón?). Fazer como na psicografia. Acontece que busco uma catarse, busco uma iluminação! E acredito que esse tipo de coisa venha de dentro e nada melhor parar tirar de dentro de mim algo do que um fluxo irreprimido de ideias e fatos e lembranças e ... Mentira! Busco uma droga. Dessa vez não pra mim. Dessa vez quero uma droga poderosa que eu possa por na bebida dele e fazê-lo me amar como o amo, ou então morrer. O que for mais fácil. Dessa forma ele não comeria e, principalmente,não daria para mais ninguém. Mas acontece que alguém na minha mente, meu superego? reprova essas atitudes e me diz que não tenho esse direito. Fiquei com a catarse, a promessa de superação.<br />
Chamei-o para sair, mas ele tinha outros planos e isso já era o suficiente para destruir minha noite de sono mas isso era pouco, ele ainda tinha de me contar o que lá pretendia fazer. Perguntou-me o que de melhor tem num casamento. Champagne, pensei. E torci para que ele respondesse bem-casados, mas ele disse Damas de Honra. Um tanto pedófilo, pensei. Mas logo a imagem de uma menininha carregando flores e vestindo um inocente vestido branco de mangas bufantes foi eclipsado pela imagem de uma adolescente de cabelos oxigenados e tomara-que-caia-já-caiu. Nada contra esse tipo de roupa, nas garotas que estão dando em cima de mim, não dele.<br />
Engraçado como associamos as coisas na nossa cabeça. A loira com quem ele transava em algum lugar terrível, porém bem iluminado, de minha consciência era a mesma com quem eu transei numa noite turva e tediosa que tentei esquecer. Talvez eu use nela o mesmo veneno que usarei nele. Não gosto da ideia de ter de me lembrar dela toda vez que me sentir traído. E, por falar em traição, eu acabei de trair os movimentos dadaísta e surrealista [talvez tenha traído vários outros(talvez simplesmente envergonhe todo o mundo alfabetizado com tudo o que escrevo)]. Voltei e li e corrigi tudo o que escrevi, mas, ao menos, fui capaz e tive a decência de manter tudo, toda a verdade. Verdade. Verdade é só mais uma palavra aqui escrita. Era para ser algo muito mais glorioso e mágico, mas não o é. Não é nada além de passatempo e crueldade e a prova disso são as marcas de minhas unhas em minhas costas, unhas essas que terei de voltar a cortar no sabugo toda semana, marcas essas que apareceram pouco depois de ele me contar que lá ficou com sei lá quantos e quantas. Talvez seja mentira dele, talvez ele só seja muito mais cruel do que eu imagino. Só sei que tive de fingir que o que ele me contava era a coisa mais natural que poderia me contar, afinal ele desconhece as alianças tatuadas em nossos dedos anelares.<br />
Ainda quero a catarse que a verdade me prometeu. Piranha mentirosa! Acho que deveria ter escrito um pouco mais sobre ele se pretendo superá-lo. Bom, fica pra próxima. São 2:18 da manhã, quem sabe se ele está online? Está, mas não veio falar comigo, não irei falar com ele. Postarei isso no meu blog e esperarei pacientemente por ele e pelo sono e, o que vier primeiro, me terá.Unknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-87769487586767722652011-08-01T17:41:00.000-07:002011-08-14T12:59:07.003-07:00É Eterno Enquanto Dura. Misturei carência, gentileza e aparência com vodka e o resultado foi algo parecido com paixão. Um longo beijo e o arrepio causado pelo encontro das pontas de nossos dedos com a pele nua embaixo de toda aquela roupa, que naquele momento, me parecia extremamente inconveniente, e logo caminhávamos de mãos dadas. Não fui capaz de compreender, não que isso fosse muito importante, como as pessoas não se desconcertavam com aquela demonstração tão aberta de afeto, mas esse pensamento se perdeu quase tão rápido quanto fumei meu cigarro ao perceber que isso o afastava e corri em direção ao choque dos lábios.<br />
Fui para minha casa e, no banho, minha sobriedade, há pouco recuperada, me alertava quanto a falsa profundidade do amor recentemente achado após anos de fria apatia e solidão. Amor, amor, e por quê não?Eu dizia. Não, simplesmente não. Obviamente não. Isso é desespero.Eu disse e, para consolar-me, continuei: De qualquer maneira, se o conhecesse, eu nada quereria com ele. Mas o que fazer com a promessa do fim da apatia e da solidão?Indaguei. Ignorar. Respondi e fui dormir.<br />
Acordei e minha visão de mundo estava tão pequena quanto sempre esteve e da experiência não tirei nenhum amadurecimento e nada eu tinha superado e em nenhum aspecto eu havia crescido. Esperança infundada e confusão evitável! Choraminguei e enquanto chorava o choro contido, desses que nos faz lacrimejar para dentro, me ridicularizei de forma violenta forçando-me a agir dignamente. Noite seguinte eu bebi e me apaixonei novamente, para, em casa, repreender a mim mesmo novamente enquanto chorava o choro contido dos frios e exilados.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-59605387013292325072011-07-30T14:27:00.000-07:002011-07-30T14:27:41.400-07:00Em segurança na caverna.Esta noite sonhei<br />
e acordei lembrando bem<br />
o que tinha sonhado.<br />
Mas como não era ousado<br />
nem mesmo memorável,<br />
este sonho que sonhei<br />
voltei a dormir.<br />
<br />
Desta vez sonhei ser proscrito.<br />
Vivia no fundo escuro e frio<br />
de uma caverna,<br />
que mais era uma cratera<br />
feita por mim mesmo<br />
num desses muros de pedra<br />
para viver o exílio<br />
decretado sem motivo<br />
também por mim.<br />
<br />
Mas vieram aqueles intrusos.<br />
Seres odiosos e sem escrúpulos!<br />
Me arrancaram de meu próprio claustro escuro,<br />
meu lugar fresco e seguro<br />
no ventre do mundo.<br />
<br />
Eu nada conhecia do exterior do mundo<br />
e por ser completamente estúpido<br />
fitei o sol.<br />
Acabei com os olhos queimados<br />
pelo maldito astro!<br />
Mas nem isso parecia ser algo<br />
era nada para os intrusos tão odiados<br />
que insistiam em gritar as maravilhas<br />
de seu mundo tão vasto.<br />
<br />
Mas será possível<br />
que eles não entendiam<br />
a dor indescritível<br />
de ser atirado ao mundo?Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-24248747126391813112011-07-20T09:07:00.000-07:002011-07-20T09:07:43.938-07:00Tortura - Florbela Espanca<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjU5nmeI09fjFWgTqqTezOvyFZdsAIuz2yaO0EVPHUDgD1rwed9CtFXBIqyTOaMCXt9RUP1pYqoxcSLd6XEJwOMFPyt8UVgnpxH0fEN4UetahCWlD1VVvqfMd8sIj4o-1TwQUZrjLBvjpM/s1600/florbelaespanca1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjU5nmeI09fjFWgTqqTezOvyFZdsAIuz2yaO0EVPHUDgD1rwed9CtFXBIqyTOaMCXt9RUP1pYqoxcSLd6XEJwOMFPyt8UVgnpxH0fEN4UetahCWlD1VVvqfMd8sIj4o-1TwQUZrjLBvjpM/s320/florbelaespanca1.jpg" width="233" /></a></div><br />
<br />
Tirar dentro do peito a Emoção,<br />
A lúcida Verdade, o Sentimento!<br />
- E ser, depois de vir do coração,<br />
Um punhado de cinza esparso ao vento!...<br />
<br />
Sonhar um verso de alto pensamento,<br />
E puro como um ritmo de oração!<br />
- E ser, depois de vir do coração,<br />
O pó, o nada, o sonho dum momento!...<br />
<br />
São assim ocos, rudes, os meus versos:<br />
Rimas perdidas, vendavais dispersos,<br />
Com que eu iludo os outros, com que eu minto!<br />
<br />
Quem me dera encontrar o verso puro,<br />
O verso altivo e forte, estranho e duro,<br />
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7373795424713330951.post-15992886768798108012011-07-20T08:55:00.000-07:002011-07-20T08:55:39.821-07:00O ídolo do covarde. Ele estava lendo um livro de bolso, desses que ele compra de um sebo poeirento no centro da cidade. Sentei-me a seu lado e ele declamou para mim o ultimo verso do poema que estava a ler. "E os meus vinte e três anos... (sou tão nova)/ Dizem baixinho a rir: 'Que linda a vida!'.../ Responde a minha Dor: "Que linda a cova!'".<br />
Perguntou-me o que achei do poema então... estalo! Travei e quase enlouqueci enquanto buscava algo que dizer. Óbvio que havia amado, sempre gostara dos contos de Florbela e foi lindo descobrir um de seus versos mas, parecia demasiado covarde admitir gostar. Seria como admitir que tudo o que ele me apresentasse seria engolido com um sorriso em meu rosto passivo e feliz em agradar. Pensei, então em dizer que não gostara dele, agir com indiferença ou arrogância, dizendo conhecer o poema mas, a imagem agressiva que se materializara em minha mente não me agradou. Ficar em cima do muro estava fora de questão! Pessoas vazias e sem opinião, parafraseando o que sempre me disse, lhe causavam asco e náuseas... estalo! Eu era uma dessas pessoas e precisava desesperadamente impedir que ele descobrisse.<br />
O choque do estalo fez com que eu me calasse e não o respondesse, mas seus olhos sedentos me espancavam atrás de resposta. Tentei me recompor e formular uma resposta digna, mas tudo o que consegui dizer foi "sei lá", daquela forma patética tão característica dos covardes como eu.<br />
Novamente seus olhos me espancavam e não havia nada a ser feito.<br />
Após tantos golpes eu me permiti sangrar e lamentar sobre minhas feridas e ele podia ver isso, afinal ele as causara. Eu quis gritar que era culpa dele e sangrá-lo assim como ele me fez sangrar mas meu complexo de inferioridade era mais forte que meu sistema de auto-defesa o que significava que eu ainda precisava ser aceito, ainda precisava ser admirado e amado por ele, por todos aqueles motivos que pessoas sãs seriam incapazes de compreender. Engoli o berro, desarmei meus olhos e dissimulei. Me peguei a admirar seus olhos, aqueles olhos aterradoramente claros e críticos e que eram, com certeza, o que me atraíam a ele. Ao fazer isso percebi como eu era auto-destrutivo então forcei-me a admirar sua boca, gentil e doce, mas era óbvio que isso só estava acontecendo por ser quela uma noite sinistramente intimidadora.<br />
Logo me peguei novamente hipnotizado por aqueles olhos malignos e novamente quis gritar com ele, novamente quis espancá-lo, sangrá-lo e ofendê-lo de todas as formas que fosse capaz. Mas, novamente, me peguei engolindo o berro, segurando o murro e perdendo todo o veneno que tinha dentro de mim por motivos suficientemente claros. Percebi também, em outro maldito estalo, que assim faria para sempre ou até que ele se cansasse de minhas incapacidades e me deixasse com um pedestal vazio. E assim foi.Unknownnoreply@blogger.com0