Eu sempre achei, desde o dia em que conheci Luís, que ele fosse depressivo. Até que o entendia, sua família não era o que nós chamamos de unida, ele era tão magro que nós víamos suas escapulas e achávamos que eram asas, mas nunca achei que isso fosse motivo para alguém tentar suicídio.
Uma das imagens mais marcantes de minha vida foi vê-lo no hospital após ele ter tentado se matar ingerindo uma caixa de calmantes. Lembro-me de ver tubos, que o auxiliavam na respiração presos ao seu nariz e da nova cor pálida de sua pele, no lugar da cor dourada que costumava ter.
Nunca achei que existisse algo tão marcante na vida de alguém a ponto de fazê-la pensar em se matar, quem diria que alguém tão próximo fosse tentar. Hoje sei o quão errado é julgar as pessoas por simplesmente tentarem aliviar sua dor, o quão errado é dizer que alguém irá para o inferno por isso e fazer as pessoas se sentirem mal, pois nunca se sabe que se passa na cabeça daquela pessoa.
Uma semana depois que Luís saiu do hospital, ele me disse que odiava a expressão de pena e horror que estava estampada em meu rosto e na de todos em sua volta. E por vergonha fiz o maior erro de minha curta vida, o deixei sozinho na varanda do meu apartamento e fui ao banheiro lavar meu rosto.
Enquanto abria a porta do banheiro ouvi o barulho de algo grande caindo, vindo da varanda. Com lágrimas em meu rosto eu lutei para não imaginar a cena de sua morte. Mas as imagens eram fortes demais, então decidi que só tinha um modo de evitar sentir pena e horror pelo seu ato, peguei os mesmos remédios que ele usara na primeira tentativa e os ingeri.
Texto de: edson . Foto de : edson .