Para Chico Buarque
"Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar"
"O amor não tem pressa"? "Ele pode esperar"?
Desculpe-me, Chico, mas desconheço o amor que pode esperar.
O amor, quando é pra valer, é sinfônico, urgente, latente.
Pede pela pele do outro. Pede pelo veludo da voz e pela maciez do sorriso. Pede pelo gozo, pelo gole partilhado na bebida, pela brincadeira noturna sob os lençóis e até mesmo pelo silêncio de depois. Pede por palavras escolhidas cuidadosamente que salientem o indizível.
O amor é valsa, baião de dois, salsa, molho, tempero, batucada, estrada.
Quem ama não espera! Muito menos em silêncio! Sofre e reclama quando o ser amado não está ao alcance das mãos.
Quando o amor acontece, ele é pra já, sim, senhor. Ele não cabe num fundo de armário, na posta-restante, num poema rabiscado ou num retrato rasgado.
Quem ama tem fome. Quem ama tem sede. Quem ama dá vexame, faz a fama e deita na cama.
Quem ama escreve cartas ridículas.
O amor que espera, desconheço. Quem sabe não se trata de um mero adereço da resignação? Pluma que enfeita a fé de quem perdeu o bem amado? Pluma leve, que como a ilusão pode ser lançada ao longe com um simples sopro de realidade e se perder no ar...
O amor não tem remédio, nem nunca terá, não tem juízo, nem nunca terá, não tem medida, nem nunca terá... Mas não, Chico, ele não pode esperar.
Mônica Montone
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