Após uma longa conversa sobre ele próprio, o psicólogo concluiu que não sabia o que César tinha, mas chutou depressão. Ele, após concluir que tinha toda razão quanto a psicologia, decidiu que tomaria um anti depressivo e seguiria com a vida.
Na mesma noite em que quase engasgou com as pílulas para depressão, César descobriu que tinha medo de dormir. As lembranças de quando o inverno junto com a solidão chegavam à sua alma eram idênticas a quando dormia. Nunca, desde pequeno, sonhou. Então as duas, em sua mente, representavam uma parte em branco, na verdade algo escuro demais para ser branco, e só de imaginá-las sentia lágrimas assustadas tentando escapar de seu olhos.
Então, para resolver essa situação, viciou-se em cafeína. Bebia litros e litros de café preto, em pequenas xícaras com duas colheres de açúcar, durante o dia, mais o dobro à noite.
Uma tarde, no banheiro da empresa onde trabalhava, se olhou no espelho e fitou um rosto estranho; pálido, com olheiras fundas e envelhecido pelo sono. Assustado pelo encontro com o espectro de si próprio, decidiu que iria num psiquiatra.
Novamente decepcionado com uma consulta que não levou a nada e com novos anti-depressivos, maiores e mais perigosos, ele resolveu procurar ajuda espiritual, apesar de ser ateu.Enquanto dirigia à caminho de um terreiro de macumba, ele finalmente após semanas insones, adormeceu e sonhou.
Pela primeira vez sonhou.
Nesse sonho sua consciência era livre de qualquer corpo ou matéria e flutuava sobre outro César que dormia enquanto dirigia. Por consequência bateu em um outro carro sendo, por isso, empurrado para o meio-fio rasgando seu pneu.
O ruído vindo do atrito entre a roda e o asfalto o acordou e ao olhar para frente viu o resultado de todo o acidente do sonho. Quando finalmente se deu conta de que ainda estava em movimento, viu que ia bater, em alta velocidade, na traseira de um caminhão e que não era mais possível evitar o baque. Só então entendeu que a sensação de que sua alma entrava em um vácuo sem fim era medo de morrer.