Após o gozo carnal me pus sentado no divã a beber. "Não precisa ficar se não quiser", disse -me com seu desdenhoso olhar a me fitar. Respondi que terminaria minha Vodka, eu não tinha pressa.
Ela ainda me fitava enquanto vestia-se e devia entreter-se pois cortou sua mão de modo inexplicável. E com inexplicável preocupação cuidei do corte, o que me tornava sóbrio. Então perguntei pelo meu copo, ela o segurava e, com melancólicos olhos, observava a bebida enrubescer.
-Pingou um pouco de sangue. Disse ela com sua terceira face, a que achei que não veria, a que provava sua, agora incontestável, humanidade, a da vergonha.
Em mais um momento inexplicável, induzido possivelmente pela pena, tomei o copo de sua mão e bebi-o.
-Por que fez isso? Perguntou novamente melancólica.
-Achei que te faria bem. Respondi sinceramente.
-Mesmo que o fizesse... Teria de beber todo meu sangue.
-Assim te mataria.
-E meu corpo serviria às minhocas como servira aos homens em vida. Ele me fitou com um olhar que não soube distinguir se o que via era sarcasmo ou tristeza.
Vesti-me e coloquei cem reais na cómoda, o dobro do combinado. Fui embora e voltei na semana seguinte para mais uma noite, dessa vez sem conversa. E nunca mais a vi.
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