Seu nome era Marcos, mas quem o conhecia chamava-o de Lixeiro. Esse apelido veio do costume que tinha de catar latinhas que encontrava nos sacos de lixo. Ele as entregava em troca de dinheiro a um senhor que fazia reciclagem. Mas, um dia, o velho homem teve um enfarto e morreu, e lixeiro teve que procurar outro modo de ganhar seu dinheiro.
Já fazia uma semana que lixeiro não comia nem bebia nada, a não ser a água de um rio fétido que tinha do lado de seu barraco. Sua barriga roncava enquanto ele a alisava na tentativa frustrada de fazê-la parar de doer.
O garoto, sem saber o que fazer para conseguir comida, passou a pedir esmola em um sinal, que escolheu por achar que ali só passava gente “bem de vida”. Porém, logo no primeiro dia percebeu que tinha concorrência. Dois garotos, não muito mais velho de quatorze e quinze anos e outro da idade de Lixeiro, faziam malabarismo com pequenas bolas de meia em troca de algumas moedas.
Juquinha, o mais novo, virou amigo de Lixeiro e o ensinou a fazer malabarismo. Os quatro passaram a fazê-lo em duplas e a “plateia” de carros pareceu gostar da novidade, já que o dinheiro engordou.
Porém, os dois mais velhos não estavam satisfeitos com o que estavam ganhando, então, um dia qualquer, apareceram com revólveres e tentaram convencer Juquinha e Lixeiro a assaltar os carros no sinal.
Juquinha, por medo, não quis aceitar, porém Lixeiro o convenceu com a promessa de que, assim, poderiam comer o que quisessem.
Depois de combinarem toda a empreitada, os garotos passaram a assaltar, toda noite, um carro. Esperavam o sinal fechar e, os dois mais novos, se punham na frente do carro, fazendo malabarismo, para evitar que ultrapassassem o sinal, enquanto que os outros dois apontavam as armas e recolhiam o que podiam.
Passado algum tempo, Juquinha, livre de qualquer medo, deu a ideia de também roubarem os carros. Lixeiro não concordou com a ideia por achar que chamaria a atenção dos policiais. Os três garotos, sem conseguir pensar em nada se não no dinheiro que ganhariam com o carro, chamaram-no de covarde e o acusaram de “ dar para trás” enquanto combinavam como o roubo aconteceria.
Lixeiro sentiu-se sozinho como não sentia desde que os conheceu. Abandonou-os, voltou para seu velho barraco e para o desagradável ar, por culpa do rio, da favela onde morava.
Na semana seguinte,enquanto passava pelo jornaleiro, ele riu, apesar da fome, ao ver a foto de Juquinha acompanhado de policiais no jornal. E sentiu-se bem, ainda era livre.
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