terça-feira, 2 de março de 2010

Girassóis

Deveria ser fácil perceber que iria embora, ao menos se eu prestasse atenção. Isso seria óbvio para mim toda vez em que, gentilmente, não dizia me amar. Mas, ainda assim, eu seria incapaz de evitá-lo. Se até os girassóis na nossa janela te seguiam, que chances teria eu?
Acho que nunca ouve tantas luas cheias num mês, as noites eram sempre a continuação do dia. Acho também que nunca ninguém ficou tão desolado em deixar uma casa como eu. Ah! Nossa casa. Nunca mais ela foi a mesma depois que a abandonamos. Não há mais aquele cheiro de lavanda, esse foi trocado pelo ar fúnebre dos cravos, que se instalaram ali vindos de não sei onde, e sua confortável meia-luz se parece agora com simples trevas. Mas os girassóis ainda estão lá, inanimados. Fitando a porta por onde você costumava entrar, junto à luz.
Mas, sabe, eu ainda guardo a felicidade desses tempos e, até mesmo a visto. Como quando, numa tarde fria e nublada, observei gotas de orvalho em minha laranjeira enquanto usava o casaco que um dia me emprestou e eu nunca devolvi.

4 comentários:

  1. Achei lindo!!! :')
    Você é lindo!!!
    Te amo!

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  2. Ainda acredito que podemos conhecer um pouco da pessoa pelo o que ela faz, poe pra fora. A arte tem esse lado doloroso, de por as nossas dores pra fora e nos obrigar a olhar pra elas, isso dói muito, e o pior é que todos podem ver. Não te conheço muito bem, mas o mínimo que conheço é pelo o que leio aqui. Não gosto, nem desgosto do que conheci, mas amei o que li. Eu ainda acredito na minha profecia: Você nasceu pra isso. Nasceu para ser mais um dos escravos das palavras e domador das letras.

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  3. Tô me sentindo. Só falta sua mãe e todas as minhas professoras de português falarem o mesmo, aí procuro um trabalho como escritor. Até lá marketing é o que há.

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