Já não adianta repensar os motivos, ele dizia a si mesmo. Mas, num fluxo impossível de controlar, o filme rolava em sua mente, as vezes na versão crua e outras vezes editado, onde ele mudava suas ações enquanto seu sub-consciente, como num cruel jogo, criava tragédias ainda maiores.
Da janela aberta o vento soprou como que para lembrá-lo de sua decisão, ou da decisão que deveria tomar. A grade de segurança já estava aberta e, se ele ainda pensava em pular, teria de fazê-lo agora, antes que seus pais chegassem e o impedissem.
Pular, não pular, pular, não pular... A questão era tão constante quanto o tic-tac do relógio ao lado da ansiosa janela.
-Pular! ele decidiu e logo firmou o primeiro pé na janela. -Pular! quase gritou em incentivo e quase todo seu corpo se curvava para fora. Olhou para baixo obstinado, mas sentiu-se tonto.
Agora procurava por motivos para não pular, em busca de qualquer apoio ou dever. Nada encontrou. Pensou então no que o aconteceria caso pulasse e, então, se assustou e novamente tonteou. Não havia luz, não havia forma, nem som. Logo reparou também não haver "eu", pois não havia consciência que lembrasse disso e que cada pedaço desse não-existir era perpétuo.
Desceu torto da escada e escondeu cada vestígio da pior idéia que já teve. Deitou-se na cama e sentiu-se desamparado, enquanto sentia que nunca mais suportaria o escuro, nunca mais teria uma só noite de bom sono e que nunca mais seria livre.
Pulamos de janelas, carros, escolas, cafés, todos os dias. Mas as vezes, decidimos pular de um penhasco maior, só pra não ter que continuar pulando por aí aguentando a queda.
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