quinta-feira, 30 de junho de 2011

Inquieto

   Creio eu ter desde sempre essa sensação, mesmo antes de mudar-me para esse asilo, onde o modo como me comporto tem sido tão incômodo.
   A sensação de que ali, perto da janela onde tem a luz e o calor do sol, estaria melhor. Mas, tão cedo arrasto a poltrona até lá e me sento, a cama passa a me parecer mais confortável, quente e convidativa. Mudo para lá e, no momento em que nela me deito, os bancos do quintal passam a ser o lugar onde quero estar... Assim passava meus dias, alternando de lugar em lugar até que adormecia sem jeito em um lugar qualquer com a certeza de que teria melhor dormido em outro lugar.
   Tudo piorou quando, numa dessas minhas andanças a procura do lugar perfeito topei com uma pedra no quintal, caí e torci o tornozelo. Primeiro achei que isso pudesse ajudar-me com minha inquietação, como num desses tratamentos para viciados onde fica-se privado de drogas por tempo suficiente para que se supere o vício. Mas, não funcionou. Passei terríveis e angustiadores minutos deitado em minha cama, até que aprendi a manipular a enfermeira que incumbiram de cuidar de mim.
   Passei a fazê-la me mudar de lugar quase tão frequentemente quanto antes de machucar-me. Após uma semana importunando a pobre mulher, ela se cansou de mim. Procurei então por outra, essa, depois de somente algumas horas, chamou-me de louco, da forma mais direta e impossível de ignorar possível : gritando grosseiramente, e fez com que me consultasse com um psiquiatra.
   Menti pra ele da forma mais cínica que pude, por medo de ser internado em algum hospício sujo cheio de doentes sinistros de olhos frios como de cadáveres, apesar de quase sonhar com a prescrição de remédios de tarja preta, os melhores. Mas, ainda assim, saí de lá diferente.
   Puseram-me de volta no meu quarto no asilo e me sentaram aleatoriamente na poltrona perto da janela. Percebi que não mais ligava para onde eu estava, mesmo sendo num quarto quente e abafado, exposto à luz e ao calor do sol de um dia de verão no Rio. Deixei-me estar ali. Simplesmente fiquei. Apático. Fingindo acreditar que a cama dura faria minhas costas doerem, fingindo me importar que no quintal me olham estranho, fingindo que precisava mesmo de uma cor. Porque, na verdade, não tinha mais vontades.

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