domingo, 9 de outubro de 2011

O Dilúvio.

- O Trampolim,
a Gravidade
e a Água,
que me recebeu com felicidade.

- Você não fala nada que faça sentido - ele disse, ou perguntou...

- Você,
a Insanidade (paixão?)
e toda essa depressão -
Expliquei - que me rouba a vivacidade.

Ele, ainda assim, não entendia nada do que eu falava.

- Sua volubilidade.
Não! Sua antipatia.
Não!Sua apatia.

* * * 

Li no jornal sobre minha terra.
Lá chove dia e noite.
Sem descanso,
sem pausa.

Desgraça!

Há quem considere a chuva divino presente.
Heresia! Eu diria, 
se fosse mais crente.
E se ao menos eu fosse.

Eu só vejo extinção,
o apocalipse em ação.
O mundo inteiro virando um só oceano
que acabará por exterminar
essa humanidade,
essa espécie má.

Destruirá ela inteira!
Que é na verdade um homem só,

"Só" como em solitário.

* * *

E toda essa audácia?
Como pôde dizer que aí chove?
Dia e noite,
cada noite e cada dia...
Mentira!

Na sua terra só há garoa.
Eu a vi naquela noite
pela janela, pelo seu olho.
Eu em seu colo,
você ofegante
e a garoa travestida de dilúvio.

* * *

Meus pais,
seres corajosos,
donos de grandes atos.
Eles escalam torres
todas as noites,
torres mortais como um penhasco
e escuras como meu quarto.

Ontem mesmo escalaram,
me encontraram,
me olharam e examinaram.
Ai! Aqueles olhos preocupados.
Eu os vi engolirem o silêncio,
que era um pacto nosso, 
e o constrangimento estampado
naqueles rostos
e enfim perguntaram:

- Filho, o que acontece? 
O que te deixa assim tão melancólico.

- Eu que vivia na garoa
de olhos fechados,
os abri e corri pro lado errado.
Fui pra terra do dilúvio
e lá nasci
e lá fui criado.
Agora me afogo em tormento e
engasgo com incerteza.

- Isso passa.- disseram.
Retornando a aspereza.

* * *

- Amor.
- Sim?
- Me mata?
- Tá.

Me afogou na banheira
e foi para a cozinha. 
Tomou o gole que restou 
do Meu café na Minha caneca.
Enquanto isso eu descia pelo ralo,
como um inseto esmagado,
superado.






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