quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Sobre a inutilidade perene.

   A vida devia ser arte e nós devíamos viver como arte, belos. Cada pequeno átomo devia ter expresso em si um ideal de beleza e ser extremo em sua qualidade expressiva. Mas, a beleza nos escapa. Já que essa nos escapa, cada pequeno ato devia ter significado e, sendo assim, cada momento sofrido devia ser recompensado. Mas, nada é como devia ser. O real é imenso e supremo e sufoca o ideal que é pura e simplesmente ideal e, como tal, existe somente nas ideias e em nenhum outro lugar.
   Hoje eu acordei pensando e que tormento é ser pensante. Sendo pensante eu descobri os defeitos mais desconcertantes. Descobri o niilismo, o ateísmo e a solidão, pouco depois descobri a depressão e logo me descobri inútil. Levantei, respirei fundo e mergulhei fundo na profunda inutilidade universal. Tudo é inútil, tudo sempre foi inútil e tudo sempre será. Mas não pode ser, não pode; pensei.
   Ao pensar isso me vi emergindo de volta a superfície do mar de inutilidade, onde ainda há esperança, onde ainda há a crença num significado maior, um significado escondido, mas um significado mesmo assim. Mas será a esperança que só existe na superfície, a esperança superficial, suficiente? Esperança essa que é sinônimo de expectativa de algo que pode existir ou não.
   Quando já não posso mais esperar submerjo e me afogo tragando em grandes goles a inutilidade que me cerca. Inutilidade essa que é desoladora, assim como a expectativa travestida de esperança, mas é verdadeira.
   Talvez, só talvez, afogar-se seja arte. Talvez haja beleza nessa tristeza que vem da inutilidade perene. E se a vida é privada de sentido, que seja ao menos grande e bela.

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