A superfície de sua carne alegava que aquele corpo era já o de um homem e não mais o de um menino. Porém não se percebia verdadeiramente dessa forma e talvez fosse melhor assim. Ainda era incapaz de controlar aquela lágrima solitária e evasiva toda vez que assistia o mundo a sua volta perder o encanto dos tempos infantis, condenados agora a serem memórias nostálgicas.
Para sempre se lembraria da madrugada em que Papai Noel perdeu a fantasia e se revelou o primo gordo e bêbado do pequeno que chorava sem compreender bem porquê, este foi o seu ultimo natal e o sinal do que estava por vir. Com o tempo ídolos, amigos, parentes e até mesmo deus perderiam suas fantasias e esses incidentes seriam recebidos por ele em luto.
Tornou-se corriqueiro lutar contra a maturidade que aos poucos era imposta a ele pelo tempo. Raspava com meticulosidade e certa ira a barba que brotou sem ser requisitada em seu rosto antes juvenil e fresco, como se essa fosse a culpada pelo amadurecimento latente. Quando enfim percebeu a luta inútil que travava, entregou-se ao tempo e este sem exitar o modificou radicalmente. Arrancou-lhe a espontaneidade dos atos, fossem grandes ou corriqueiros, e os encheu de convenções sociais, forçou-o a travestir-se de perfeito e o ensinou a dissimular suas frustrações. Foi necessário certa dose de empenho da parte do novo ser que nascia, mas logo ele aprendeu também a chorar a seco, despercebidamente.
Nunca soube exatamente o que perdeu com essa mudança, que todos chamavam de amadurecimento como se fosse uma espécie de processo evolutivo, mas pra sempre sentiu-se privado de algo imenso e indescritível. Porém não havia com que se preocupar, nunca ninguém saberia dessa frustração que era pai e mãe de todas as outras. Há muito já havia aprendido a chorar a seco, aquela lágrima agora ficava perfeitamente contida.
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