Havia uma árvore numa rua movimentada do centro da cidade que, de tão antiga, para mim parecia eterna. Eterna como o é Deus, sem início e sem fim. Talvez pareça estranho que alguém tenha uma ideia dessas na cabeça em tempos como este, onde tudo é irremediavelmente descartável, mas é exatamente por isso que este tipo de impressão nasce. Na era do ceticismo e da finitude sentimos necessidade de criar ídolos que sejam infinitos. Precisamos de algo que nos acenda a fé, algo que nos dê a certeza de que quando eu passar por ali, dentro do ônibus lotado, a verei como a vejo sempre: antiga como a terra e bela, muito bela.
Em um dia excepcional para o Rio de Janeiro, conhecido pelo sol e pelo calor, choveu e fez frio. Não era uma chuva qualquer... Nunca o é. Não é mesmo? Que tipo de texto que se preze fala de acontecimentos banais? Não, não era mesmo uma chuva qualquer. Era uma dessas chuvas que não se vê desde o dilúvio. Alagou o centro, destruiu as favelas e afogou homens, mulheres, crianças, amantes e pessoas de bem.
Chuva horrível e detestável. Deixou a cidade em ruínas, mas, ao contrário do que se possa pensar, não era o fim. A cidade se reconstruiu com a força daqueles que, no dia seguinte, acordariam cedo para buscar seu sustento. Desalagou-se o centro, reconstruiu-se as favelas e velou-se os mortos pela catástrofe.
A árvore? Tá aí uma consequência da tempestade que não foi remediada. A árvore imortal, eterna e infinita tombara e as pessoas, que nada sabiam de sua singularidade, nada fizeram. As vezes, para me consolar, penso que mesmo se soubessem de algo nada fariam por nada poderem fazer. Confesso que não é muito reconfortante...
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