Esta noite sonhei
e acordei lembrando bem
o que tinha sonhado.
Mas como não era ousado
nem mesmo memorável,
este sonho que sonhei
voltei a dormir.
Desta vez sonhei ser proscrito.
Vivia no fundo escuro e frio
de uma caverna,
que mais era uma cratera
feita por mim mesmo
num desses muros de pedra
para viver o exílio
decretado sem motivo
também por mim.
Mas vieram aqueles intrusos.
Seres odiosos e sem escrúpulos!
Me arrancaram de meu próprio claustro escuro,
meu lugar fresco e seguro
no ventre do mundo.
Eu nada conhecia do exterior do mundo
e por ser completamente estúpido
fitei o sol.
Acabei com os olhos queimados
pelo maldito astro!
Mas nem isso parecia ser algo
era nada para os intrusos tão odiados
que insistiam em gritar as maravilhas
de seu mundo tão vasto.
Mas será possível
que eles não entendiam
a dor indescritível
de ser atirado ao mundo?
Pseudoblog com alguns escritos, a maioria sem nexo algum. Apenas vontade de mostrar de modo quase anônimo o que escrevo.
sábado, 30 de julho de 2011
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Tortura - Florbela Espanca
Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...
Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!...
São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que eu minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!
O ídolo do covarde.
Ele estava lendo um livro de bolso, desses que ele compra de um sebo poeirento no centro da cidade. Sentei-me a seu lado e ele declamou para mim o ultimo verso do poema que estava a ler. "E os meus vinte e três anos... (sou tão nova)/ Dizem baixinho a rir: 'Que linda a vida!'.../ Responde a minha Dor: "Que linda a cova!'".
Perguntou-me o que achei do poema então... estalo! Travei e quase enlouqueci enquanto buscava algo que dizer. Óbvio que havia amado, sempre gostara dos contos de Florbela e foi lindo descobrir um de seus versos mas, parecia demasiado covarde admitir gostar. Seria como admitir que tudo o que ele me apresentasse seria engolido com um sorriso em meu rosto passivo e feliz em agradar. Pensei, então em dizer que não gostara dele, agir com indiferença ou arrogância, dizendo conhecer o poema mas, a imagem agressiva que se materializara em minha mente não me agradou. Ficar em cima do muro estava fora de questão! Pessoas vazias e sem opinião, parafraseando o que sempre me disse, lhe causavam asco e náuseas... estalo! Eu era uma dessas pessoas e precisava desesperadamente impedir que ele descobrisse.
O choque do estalo fez com que eu me calasse e não o respondesse, mas seus olhos sedentos me espancavam atrás de resposta. Tentei me recompor e formular uma resposta digna, mas tudo o que consegui dizer foi "sei lá", daquela forma patética tão característica dos covardes como eu.
Novamente seus olhos me espancavam e não havia nada a ser feito.
Após tantos golpes eu me permiti sangrar e lamentar sobre minhas feridas e ele podia ver isso, afinal ele as causara. Eu quis gritar que era culpa dele e sangrá-lo assim como ele me fez sangrar mas meu complexo de inferioridade era mais forte que meu sistema de auto-defesa o que significava que eu ainda precisava ser aceito, ainda precisava ser admirado e amado por ele, por todos aqueles motivos que pessoas sãs seriam incapazes de compreender. Engoli o berro, desarmei meus olhos e dissimulei. Me peguei a admirar seus olhos, aqueles olhos aterradoramente claros e críticos e que eram, com certeza, o que me atraíam a ele. Ao fazer isso percebi como eu era auto-destrutivo então forcei-me a admirar sua boca, gentil e doce, mas era óbvio que isso só estava acontecendo por ser quela uma noite sinistramente intimidadora.
Logo me peguei novamente hipnotizado por aqueles olhos malignos e novamente quis gritar com ele, novamente quis espancá-lo, sangrá-lo e ofendê-lo de todas as formas que fosse capaz. Mas, novamente, me peguei engolindo o berro, segurando o murro e perdendo todo o veneno que tinha dentro de mim por motivos suficientemente claros. Percebi também, em outro maldito estalo, que assim faria para sempre ou até que ele se cansasse de minhas incapacidades e me deixasse com um pedestal vazio. E assim foi.
Perguntou-me o que achei do poema então... estalo! Travei e quase enlouqueci enquanto buscava algo que dizer. Óbvio que havia amado, sempre gostara dos contos de Florbela e foi lindo descobrir um de seus versos mas, parecia demasiado covarde admitir gostar. Seria como admitir que tudo o que ele me apresentasse seria engolido com um sorriso em meu rosto passivo e feliz em agradar. Pensei, então em dizer que não gostara dele, agir com indiferença ou arrogância, dizendo conhecer o poema mas, a imagem agressiva que se materializara em minha mente não me agradou. Ficar em cima do muro estava fora de questão! Pessoas vazias e sem opinião, parafraseando o que sempre me disse, lhe causavam asco e náuseas... estalo! Eu era uma dessas pessoas e precisava desesperadamente impedir que ele descobrisse.
O choque do estalo fez com que eu me calasse e não o respondesse, mas seus olhos sedentos me espancavam atrás de resposta. Tentei me recompor e formular uma resposta digna, mas tudo o que consegui dizer foi "sei lá", daquela forma patética tão característica dos covardes como eu.
Novamente seus olhos me espancavam e não havia nada a ser feito.
Após tantos golpes eu me permiti sangrar e lamentar sobre minhas feridas e ele podia ver isso, afinal ele as causara. Eu quis gritar que era culpa dele e sangrá-lo assim como ele me fez sangrar mas meu complexo de inferioridade era mais forte que meu sistema de auto-defesa o que significava que eu ainda precisava ser aceito, ainda precisava ser admirado e amado por ele, por todos aqueles motivos que pessoas sãs seriam incapazes de compreender. Engoli o berro, desarmei meus olhos e dissimulei. Me peguei a admirar seus olhos, aqueles olhos aterradoramente claros e críticos e que eram, com certeza, o que me atraíam a ele. Ao fazer isso percebi como eu era auto-destrutivo então forcei-me a admirar sua boca, gentil e doce, mas era óbvio que isso só estava acontecendo por ser quela uma noite sinistramente intimidadora.
Logo me peguei novamente hipnotizado por aqueles olhos malignos e novamente quis gritar com ele, novamente quis espancá-lo, sangrá-lo e ofendê-lo de todas as formas que fosse capaz. Mas, novamente, me peguei engolindo o berro, segurando o murro e perdendo todo o veneno que tinha dentro de mim por motivos suficientemente claros. Percebi também, em outro maldito estalo, que assim faria para sempre ou até que ele se cansasse de minhas incapacidades e me deixasse com um pedestal vazio. E assim foi.
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