domingo, 28 de agosto de 2011

O amor tem pressa

Achei isso na revista O Globo de hoje. Não faço ideia de quem seja a mulher que escreveu, mas ela sabe o que fala. Ao menos pareceu pra mim. 


Para Chico Buarque

"Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar"

"O amor não tem pressa"? "Ele pode esperar"?

Desculpe-me, Chico, mas desconheço o amor que pode esperar.

O amor, quando é pra valer, é sinfônico, urgente, latente.

Pede pela pele do outro. Pede pelo veludo da voz e pela maciez do sorriso. Pede pelo gozo, pelo gole partilhado na bebida, pela brincadeira noturna sob os lençóis e até mesmo pelo silêncio de depois. Pede por palavras escolhidas cuidadosamente que salientem o indizível.

O amor é valsa, baião de dois, salsa, molho, tempero, batucada, estrada.

Quem ama não espera! Muito menos em silêncio! Sofre e reclama quando o ser amado não está ao alcance das mãos.

Quando o amor acontece, ele é pra já, sim, senhor. Ele não cabe num fundo de armário, na posta-restante, num poema rabiscado ou num retrato rasgado.

Quem ama tem fome. Quem ama tem sede. Quem ama dá vexame, faz a fama e deita na cama.

Quem ama escreve cartas ridículas.

O amor que espera, desconheço. Quem sabe não se trata de um mero adereço da resignação? Pluma que enfeita a fé de quem perdeu o bem amado? Pluma leve, que como a ilusão pode ser lançada ao longe com um simples sopro de realidade e se perder no ar...

O amor não tem remédio, nem nunca terá, não tem juízo, nem nunca terá, não tem medida, nem nunca terá... Mas não, Chico, ele não pode esperar.

Mônica Montone
 
 

domingo, 21 de agosto de 2011

Catarse

O que sobe tem de descer. Eles sabiamente disseram, mas esqueceram de avisar que eu devia proteger-me da queda do que quer que eu tenha jogado. Estou preso à uma espécie de devir. Nesse momento quase acredito numa Divina Providência que, após séculos de inércia, decidiu fazer-me pagar pelos meus erros. Eu que achei que já havia aprendido como aproximar-me sexual e afetuosamente das pessoas sem me tornar um escravo me surpreendo contando as tristezas de minha vida, tão preso a todos esses acontecimentos, para todos os que se dispõem a ouvir, e também para aqueles que não. Me surpreendo também chorando na frente de dezenas de estranhos dentro do ônibus lotado. É o devir, a maldição que me faz passar por tudo o que já passei desde a primeira vez que amei alguém. É a queda do que quer que eu tenha jogado, ele ser o motivo de eu tanto chorar quando, na verdade, achava que ele fosse ser mais um dos que comi e depois tive de bloquear para evitar o constrangimento.
É difícil me controlar e não ler e reescrever tudo o que já escrevi, mas eu me seguro. Esse tem de ser um texto de escrita automática. Sabe? Fazer como Breton(Brèton, Bretón?). Fazer como na psicografia. Acontece que busco uma catarse, busco uma iluminação! E acredito que esse tipo de coisa venha de dentro e nada melhor parar tirar de dentro de mim algo do que um fluxo irreprimido de ideias e fatos e lembranças e ... Mentira! Busco uma droga. Dessa vez não pra mim. Dessa vez quero uma droga poderosa que eu possa por na bebida dele e fazê-lo me amar como o amo, ou então morrer. O que for mais fácil. Dessa forma ele não comeria e, principalmente,não daria para mais ninguém. Mas acontece que alguém na minha mente, meu superego? reprova essas atitudes e me diz que não tenho esse direito. Fiquei com a catarse, a promessa de superação.
Chamei-o para sair, mas ele tinha outros planos e isso já era o suficiente para destruir minha noite de sono mas isso era pouco, ele ainda tinha de me contar o que lá pretendia fazer. Perguntou-me o que de melhor tem num casamento. Champagne, pensei. E torci para que ele respondesse bem-casados, mas ele disse Damas de Honra. Um tanto pedófilo, pensei. Mas logo a imagem de uma menininha carregando flores e vestindo um inocente vestido branco de mangas bufantes foi eclipsado pela imagem de uma adolescente de cabelos oxigenados e tomara-que-caia-já-caiu. Nada contra esse tipo de roupa, nas garotas que estão dando em cima de mim, não dele.
Engraçado como associamos as coisas na nossa cabeça. A loira com quem ele transava em algum lugar terrível, porém bem iluminado, de minha consciência era a mesma com quem eu transei numa noite turva e tediosa que tentei esquecer. Talvez eu use nela o mesmo veneno que usarei nele. Não gosto da ideia de ter de me lembrar dela toda vez que me sentir traído. E, por falar em traição, eu acabei de trair os movimentos dadaísta e surrealista [talvez tenha traído vários outros(talvez simplesmente envergonhe todo o mundo alfabetizado com tudo o que escrevo)]. Voltei e li e corrigi tudo o que escrevi, mas, ao menos, fui capaz e tive a decência de manter tudo, toda a verdade. Verdade. Verdade é só mais uma palavra aqui escrita. Era para ser algo muito mais glorioso e mágico, mas não o é. Não é nada além de passatempo e crueldade e a prova disso são as marcas de minhas unhas em minhas costas, unhas essas que terei de voltar a cortar no sabugo toda semana, marcas essas que apareceram pouco depois de ele me contar que lá ficou com sei lá quantos e quantas. Talvez seja mentira dele, talvez ele só seja muito mais cruel do que eu imagino. Só sei que tive de fingir que o que ele me contava era a coisa mais natural que poderia me contar, afinal ele desconhece as alianças tatuadas em nossos dedos anelares.
Ainda quero a catarse que a verdade me prometeu. Piranha mentirosa! Acho que deveria ter escrito um pouco mais sobre ele se pretendo superá-lo. Bom, fica pra próxima. São 2:18 da manhã, quem sabe se ele está online? Está, mas não veio falar comigo, não irei falar com ele. Postarei isso no meu blog  e esperarei pacientemente por ele e pelo sono e, o que vier primeiro, me terá.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

É Eterno Enquanto Dura.

   Misturei carência, gentileza e aparência com vodka e o resultado foi algo parecido com paixão. Um longo beijo e o arrepio causado pelo encontro das pontas de nossos dedos com a pele nua embaixo de toda aquela roupa, que naquele momento, me parecia extremamente inconveniente, e logo caminhávamos de mãos dadas. Não fui capaz de compreender, não que isso fosse muito importante, como as pessoas não se desconcertavam com aquela demonstração tão aberta de afeto, mas esse pensamento se perdeu quase tão rápido quanto fumei meu cigarro ao perceber que isso o afastava e corri em direção ao choque dos lábios.
   Fui para minha casa e, no banho, minha sobriedade, há pouco recuperada, me alertava quanto a falsa profundidade do amor recentemente achado após anos de fria apatia e solidão. Amor, amor, e por quê não?Eu dizia. Não, simplesmente não. Obviamente não. Isso é desespero.Eu disse e, para consolar-me, continuei: De qualquer maneira, se o conhecesse, eu nada quereria com ele. Mas o que fazer com a promessa do fim da apatia e da solidão?Indaguei. Ignorar. Respondi e fui dormir.
   Acordei e minha visão de mundo estava tão pequena quanto sempre esteve e da experiência não tirei nenhum amadurecimento e nada eu tinha superado e em nenhum aspecto eu havia crescido. Esperança infundada e confusão evitável! Choraminguei e enquanto chorava o choro contido, desses que nos faz lacrimejar para dentro, me ridicularizei de forma violenta forçando-me a agir dignamente. Noite seguinte eu bebi e me apaixonei novamente, para, em casa, repreender a mim mesmo novamente enquanto chorava o choro contido dos frios e exilados.